Fordismo educacional incriado
Somos produtos da sociedade!... que doce
embriaguez omissa daqueles que, inconscientemente, têm esse apotegma como
oração, sendo os indivíduos, concretos constituidores desta mesma fabril
comunidade subjetivada, em prol da objetividade igualitária dos diferentes
preceitos básicos de bem estar geral, zeladores estes, da individualidade inata
e divina propiciada por aquele que inexiste, a partir da premissa criação e
criado, porém existe, no entanto, é não criado e do nada tudo cria mas só pode
existir aquele que é criado por algo e de algo, discorrido delirantemente por
Fichte, com mais garra por Schelling e morfoseado em estado por Hegel. Em uma
conjuntura cristã não é possível problematizá-lo, já que é incriado, não
obstante, não podemos compreender a totalidade assimilando subverdades de uma
realidade alterada por interventores incultos.
Quando apreciados os elementos de culturas
diversas, entende-se as dualidades existentes em todas as criações e
incriações, são gumes da mesma espada, o Tao dispõe a bondade no mau e o mau na
bondade, mantendo o equilíbrio multiuniversal, assim como o Caduceu de Mercúrio
e o Nirvana, o tudo no nada. Tudo se cria do tudo, tudo se cria do nada, nada
se cria do tudo e o nada se cria do nada, paralelamente, o incriado concebe a
totalidade do nada, tudo não existe, existindo assim como o Éter.
Compreende-se nos diálogos do Estagirita, na
dialética socrática, na erística shopenhaueriana a busca homérica por inovações
metodológicas de compreensão da incriação não cedem ao misoneísmo, presente nas
críticas do humanista religioso Morus, pela personagem Rafael, à sociedade
inglesa do século XVI, tão modernas, contextualizadas à não aceitação ao
abandono de antiquados métodos ortodoxos:
“...com
o amor-próprio alarmado como se fossem perder a reputação de sábios a passar
por imbecis. Eles quebram a cabeça até encontrar um argumento contraditório, e,
se a memória e a lógica lhes mínguam, entricheiram-se neste lugar-comum: ‘
Nossos pais assim pensaram e assim fizeram; ah! Queira Deus que igualemos a
sabedoria de nossos pais! Depois se assentam, pavoneando-se, como se acabassem
de pronunciar um oráculo. Dir-se-ia, ao ouvi-los, que a sociedade vai perecer
se surgir um homem mais sábio que os seus antepassados. Enquanto isso,
permaneçamos indiferentes, deixando subsistir as boas instituições que eles nos
legaram; e quando surge um melhoramento novo agarramo-nos à antiguidade para não acompanhar o progresso.
Vi, em quase toda a parte, desses julgadores rabugentos, insensatos ou
presunçosos.” (MORUS, 2011, p. 34.)
Cremos na incriação criadora, mas crer que o
indivíduo criado do nada à imagem e semelhança do Ser Supremo – devido nossa
herança oriunda do darwinismo social – possa criar, aprender, saber mais do que
nós é tragicamente inviável, no entanto, aceitamos ortodoxias metodológicas
propedêuticas fordistas, onde professores trocam de sala a cada soar da sirene
como o operário desloca-se pela linha de produção ou como o produto sendo
levado pela esteira; tayloristas com papéis, relatórios diários, burocracia
necessária ao bom andamento do controle da instituição e principalmente o
toyotismo coordenador da forma,
quantidade e capacidade da nova massa produtora e do exército de reserva, sejam
consideradas metodologias educacionais importantes. Podem com certeza, entregar
resultados, somos os resultados, não obstante mantemos o padrão de ópera.
Discutir objetivamente o subjetivo ilustra
novos caminhos, descobrir detox para infoxicação, pregar o reconstrutivismo,
educação rogeriana motivacional californiana, meditação tibetana de autoconhecimento, novos métodos ou criação
da incriação, ideias pululam todo segundo independente de metas ou
metodologias. Habilidades artísticas, intelectuais e ou esportivas não são
exprimidas por todos de forma diferenciada, cada qual desenvolve estilos
distintos de capacidades, é possível melhorar o que já se tem como competência,
mas pintar como Da Vinci ou Michelangelo é provavelmente acessível, no entanto
inovar não, apenas se repetirá padrões.
Esse tem sido o mote da padronização,
desvaloriza-se capacidades inatas, inovações, ideias porque todos devem seguir
o que o facilitador do pouco conhecimento transmitirá, redundando, só ele
define o que é importante, misoneísta, não permite o diálogo consigo mesmo, tão
defendido por Gautama, Sócrates e Jesus, à seus alunos – produtos – mantém-se
inflexível e ao surgir a descoberta, ofendido, determina-a como anomalia
eliminando todos os possíveis defeitos da produção, reprogramando sua aptidão,
impedindo a concepção de caminhos mais elaborados, sendo a valorização das
individualidades censurada pela globalização, onde o objeto, o produto e o
produto não designa você e sim o que poderá fornecer, coisificando a si mesmo e
aqueles que dependem da sua capacidade para enganar e fugir da dimensão
fetichista da social produtividade.
Bem, então sim, somos produtos da sociedade,
subprodutos, devido nossa consciência de tal situação e nosso ofício de
encarregados da fabricação de produtos de qualidade tão discutível quanto nós,
produtos produtores detentores mediadores de um conhecimento que renova-se como
células humanas rumo ao colapso fênixiano, produzindo, produzindo... Ou
elaboraremos alternativas que protagonizem as especificidades dos alunos
(ex-produtos)? Despertaremos nestes o seu diálogo interior possibilitador da
apreensão da realidade externa natural e interna natural, como consciência
latente em espera à ser reconhecida? Transformaremos o modo ortodoxo Ford-Taylor-Toyotista
educacional num processo simbolizado há milênios por Yin Yangs ou Caduceus que
iluminam a dialetização da mente e do citado modelo educacional? Não
expurgaremos o método, que até hoje nos guiou oprimindo, mas deveremos sim,
incluí-lo no novo processo como o erro que evitaremos. Se houver processo.


Comentários
Postar um comentário