Na vida em sociedade
Quando uma mulher dá a luz,
sou a mãe, sou o pai e sou a criança,
a mão que oprime e a mão que o berço
balança.
Quando uma criança é abandonada,
sou quem a abandona e sou quem é
abandonado,
sou quem a salva e quem é maltratado.
Quando há aprendizado,
sou quem ensina e sou quem aprende,
sou quem conta a verdade e sou quem
mente.
Quando ocorre uma agressão,
sou o agressor e sou quem é agredido,
sou o protetor e sou o protegido.
Quando acontece um acidente,
sou quem o causa e sou quem se fere,
sou aquele que resgata e sou quem
falece.
Quando numa eleição,
sou quem perde e sou quem ganha,
sou aquele que vota e sou aquele que se
acanha.
Quando alguém é preso,
sou o ladrão e sou o policial,
sou eu a justiça e sou o caos social.
Quando ocorre um feminicídio,
sou a mulher e sou o criminoso,
sou a vítima e sou o preconceituoso.
Quando há racismo,
sou o racista e sou o negro,
sou o ignorante, a base do preconceito.
Quando há homofobia,
sou o homossexual e sou o hétero,
sou o enrustido e o de coração aberto.
Quando uma pessoa é estuprada,
sou a violentada e sou o violador,
sou quem sofre e sou quem sente a dor.
Quando há pedofilia,
sou a criança e sou o pervertido,
eu sou quem perde o mundo colorido.
Quando há prostituição,
sou quem paga e sou quem seduz,
sou quem ajuda e sou quem apaga a luz.
Quando ocorre um roubo,
sou quem rouba e sou quem é roubado,
sou quem prende e sou quem é presidiário.
Quando se encontra uma bala perdida,
sou aquele que morre e sou aquele que atira,
sou o crime organizado e sou a polícia.
Quando um índio é atacado,
sou o fazendeiro e sou o engajado,
sou o sem terra e sou o latifundiário.
Quando alguém tem fome,
sou quem come e sou quem desperdiça,
sou quem explora e sou quem auxilia.
Todo ato é político,
todo não-ato é político.
Escolha um lado, ninguém é imparcial.
A neutralidade é a essência da
cumplicidade,
a omissão, a semente da culpabilidade.


Comentários
Postar um comentário