Crenças refletidas


Diante da urna, enquanto confirmava minhas escolhas políticas percebi que meu caçula fitava-me, sentado ao lado da mãe, próximo a saída da sala. Uma epifania ocorreu-me, a importância de nossa participação em um momento como uma eleição e seus desdobramentos futuros. Quantas, quantas pessoas lutaram para que esse momento fosse possível hoje?
Olhando para ele lembrei-me do que tenho aprendido, lembrei-me da história que minha mãe contara de que meu avô sindicalista por vezes precisava se esconder por labutar pela manutenção de seus direitos e de outrem. Lembrei-me do que meu pai falava sobre greves e política, lembrei-me do que minha mãe passou para nos educar com força e amor contra essa sociedade machista, lembrei-me das semelhanças de nosso momento atual com a Alemanha de 1933, das semelhanças com o Brasil de 1964. Lembrei-me das crianças que foram violentadas e mortas para castigar os pais que se ergueram contra o autoritarismo no Brasil, lembrei-me das mães, dos filhos e filhas que ainda choram pelos desaparecidos na ditadura civil-millitar, que muitos insistem ter sido um momento de paz e crescimento econômico para todos no Brasil. Lembrei-me do livro de Pedro Bandeira, Cara Pintada e como aquilo me encantou e me assustou ao mesmo tempo.
O encantamento com o livro de Pedro Bandeira, talvez, tenha surgido do romantismo que se instalara em mim por achar-me capaz de modificar aquilo que considerava injusto na sociedade. Eu tinha um pouco mais de uma década de existência e o medo também apoderava-se de mim ao imaginar-me precisando fugir para não ser pego pela polícia que torturava os “comunistas comedores de criança”, absurdos repetidos aos quatro ventos no século XXI, por mais surreal que possa transparecer.
Recordei-me também da Operação Bandeirante, mecenas do golpe civil-militar de 1964 e de seu estabelecimento e suas semelhanças com as Think tanks da atualidade, as reuniões de políticos brasileiros e representantes de 102 multinacionais com exigências claras e objetivas que estão sendo postas em prática desde o golpe em 2016.
O crescimento da direita e extrema direita pela Europa e Estados Unidos, não demoraria a bater à nossa porta. Provavelmente, as Think tanks sabem do potencial brasileiro e de seu mercado consumidor forte e crescente a partir de 2002 e estagnado há dois anos. Como garantia que o país deixasse de “atrapalhar” o mercado internacional com o petróleo Pré-sal, expansão da exportação de alimentos e início de uma forte indústria de base tudo se repetiu.
Considerei impossível que algo desse tipo pudesse ocorrer, quiça uma reestruturação econômica neoliberal, no máximo. Mas algo pior se estabeleceu, o mito do sebastianismo ainda está presente no imaginário coletivo, o messianismo se instaurou. Aqueles que se beneficiaram de políticas públicas sociais e ascenderam financeiramente, colocaram-se a negar e a perseguir os que trabalharam pelo bem estar comum e, aos gritos proclamavam – recebendo Bolsa Família, ou pagando FIES, ou com diploma debaixo do braço com carimbo do Pro Uni – “aqui não será uma Venezuela” ou com a camisa da CBF “vai pra Cuba esquerdopata”, “minha bandeira nunca será vermelha”, “se é gay é falta de porrada”, “índio é vagabundo”, “quilombola  não serve nem para procriar”, “família – fé – propriedade” (gesticulando como se empunhassem armas), decerto Hitler e Mussolini se abraçam no inferno comemorando seu legado.
A onda direitista na Europa parece enfrentar obstáculos, vendo a França, Reino Unido e Alemanha reestatizando empresas responsáveis pelos serviços básicos essenciais à população, segundo tais nações o “Estado mínimo” é uma bomba prestes a devastar a sociedade. Aqui o pobre de direita quer que se privatize, possivelmente ele acredita que pagar mais caro pelo serviço é chique! Já que o complexo de vira-lata se perpetua por décadas, vamos imitar esses países? Tudo que vem de fora não é melhor?
Observando oprimidos defenderem seus algozes, imagino o quão devastador será para essas pessoas (e para nós) o banquete de consequências, o qual todos se sentarão à mesa para empanturrarem-se, como diz R. L. Stevenson. Uma analogia tragicômica é ver duas pessoas discutindo qual achocolatado é melhor, mas desconhecem a relação de ambos com o cacau, assim é o pobre de direita, briga por uma política econômica neoliberal sem entender que perde direitos, pois a mídia o faz pensar que é elite.
Depois de tudo isso consumir minha mente em segundos, tive certeza de que não podemos legar ao futuro os mesmos erros! Nós e muito menos as crianças merecemos passar por tudo isso, muitas pessoas viveram e morreram para que pudéssemos viver esse momento, não deixemos que neofascistinhas acabem com tudo. Devemos isso à todos que são e foram vítimas de preconceitos! Devemos isso à humanidade!
Ainda há esperança! Vamos à luta, uni-vos!

Comentários